terça-feira, 20 de julho de 2010

Mário Miranda de Albuquerque


Uma jovem vida interrompida
Renascida na consciência e formação
De um líder sedento por justiça

Os dedos são magros. As unhas, bem curtas. A barba e o cabelo são grisalhos, reflexos de sabedoria. A pele, morena. Os pêlos do braço são negros, como os olhos. Enquanto a cabeça foi trabalhada com livros, o corpo encontrou o equilíbrio com a biodança. Foi nessa terapia que o coração também encontrou o amor de uma mulher. No caso, A mulher. A risada é gostosa. De uma pessoa que sabe gozar da vida. De alguém que já teve “overdose de liberdade” e hoje usufrui na medida certa. Faz o que gosta e o que se sente chamado a fazer.
A idade cronológica passa longe. Sessenta e dois anos, só se for de vivência e experiências. Esse escorpiano, nascido a 21 de novembro, é jovem. Porque, como defende ele, “jovem não tem medo”. E esse cearense é destemido. Com óclinhos estilo Harry Potter, esse humanista, cujas feições e ações lembram Gandhi, é provocador e questionador. “De tudo”, diz. Paixão e liberdade são as palavras que o definem, mas não o limitam. Liberdade, que até o AI-5 não conseguiu suprimir. E, acredite, ele daria a vida por ela quantas vezes fosse preciso.
Da mãe Lourdes, dona de casa, recebeu os bons modos. Mário Miranda de Albuquerque é simpático, cumprimenta todos com um sorriso singelo. Abre a porta do elevador e da sala e deixa as mulheres passarem primeiro. Do pai Mário, comerciário, político e poeta, Mário recebeu a paixão pelas pequenas e grandes coisas. É um revolucionário. Segue seus ideais. “Só morrem as causas pelas quais ninguém morre”, repete o lema que o acompanha desde os tempos de colégio.
Quando menino, sua rebeldia era fumar cigarro, beber cachaça, chegar tarde à casa e andar com pessoas que os pais não gostavam. Ainda jovem, foi secretário, vice e presidente do centro estudantil. Hoje, sua atuação vai além de cargos burocráticos da política. Ele faz política sem precisar ser parlamentar. Seu papel é abrir caminhos. É mobilizar e conscientizar as pessoas. É continuar a luta que nunca pára. E consegue. Bastam cinco minutos para atrair a atenção de todos: Mário fala e as pessoas já se envolvem com a causa.
Mário é ágil. Os braços se movimentam inúmeras vezes na entrevista ou em qualquer conversa. Mário é didático, como aquele professor preferido do primário. Conta nos dedos quando enumera algo, contextualiza os fatos historicamente, fala pausadamente. Tem os braços sempre abertos, como quem alça vôo. Eles gesticulam, como quem abraça a causa. Causa que não é só a dele, é a de todos. Mas seus pés, mal se mexem. Estão fincados no chão, em sua terra, em sua luta. Seu coração é de mãe, de pai, de amigo. De brasileiro.
Sonhador e inovador, sacrificou tudo por acreditar que em três anos iam chegar ao poder. A prisão em 1971 marca uma vida interrompida. Mas marca também o nascimento de um novo Mário, mais maduro e consciente. É lá que ele começa a ler e ganhar consciência histórica e política. É o Mário que conhecemos e por quem nos apaixonamos.
Depois de quase nove anos, sai da prisão numa noite de domingo. Era lua cheia. O céu sorria e se iluminava. Ou seria Mário que iluminava os locais por onde passava com sua alegria em reviver? Nessa “overdose de liberdade”, se meteu em teatro, em dança, até no carnaval de Olinda. Hoje, esse líder nato trabalha nas causas que acredita. Mário anda sem relógio. Não é escravo do tempo. Já ficou preso tempo demais. É irmão da liberdade.