quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

“Não como Corrs”



A integrante mais nova dos Corrs mostra maturidade em álbum solo

Ninguém discorda que The Corrs é uma banda maravilhosa. E é seguindo esse alto nível que depois de mais de 12 anos de carreira e mais de 30 milhões de álbuns vendidos, a vocalista do grupo, Andrea Corr, lança seu álbum de estréia: “Ten feet high” (Andrea Corr; Atlantic Records 12 faixas, sendo a última faixa bônus; preço médio: 29,90).
Aos 15 anos, Andrea se junta aos irmãos mais velhos para começar a trabalhar numa das bandas irlandesas mais bem sucedidas no mundo. Com cinco álbuns de músicas exclusivas, um acústico MTV e uma coletânea, a banda ficou bem conhecida no Brasil ao ter uma música (“long night”) como tema da novela “Senhora do destino”.
Depois do último álbum “Home”, em 2005, os irmãos mais velhos decidem dar um tempo com a família. É a vez de Andrea lançar a sorte em sua carreira solo. O álbum “Ten feet high” não conta com o marcante violino de Sharon em todas as músicas, o que pode parecer estranho no primeiro momento para os fãs de The Corrs. Mas sua ausência não deixa as músicas ficarem mais simples, pois Andrea se utiliza muito bem dos demais instrumentos. O piano nunca tocado na banda com os irmãos é o seu instrumento chave. A parte instrumental do álbum conta com harpa, guitarra, violão, trompete, violoncelo, saxofone e o violino em duas músicas.
Apaixonada por canções baseadas em histórias, como as de Neil Young e Simon & Garfunkel que a transportam para os mais variados lugares, tinha vontade de fazer um álbum cheio de pequenas histórias, onde sua imaginação pudesse fluir. E conseguiu. São onze faixas de historinhas de pessoas comuns e da própria cantora, que se encaixam com o ritmo da canção. Das onze faixas, Andrea compôs dez.
Ao ouvirmos a primeira faixa do álbum “Hello boys”, já percebemos uma nova Andrea. A cantora de desvincula da sua fama de meiga e bonequinha com a frase: “Eu estou aqui para jogar”. As faixas seguintes vão mostrando as várias facetas da artista e sua capacidade de criar e se reiventar. Na faixa “Anybody there”, Andrea é uma pessoa solítária e frágil. “Shame on you” é o sucesso das rádios. É uma música dançante que mostra uma Andrea desiludida amorosamente com alguém que a magoou. Também tem a Andrea romântica assumida nas faixas “I do”, “24 hours” “This is what it’s all about” e “Take me i’m yours”. Uma outra Andrea ferida e frágil na faixa que dá nome ao álbum “ten feet high”, uma das melhores do álbum, com uma orquestra maravilhosa.
Como não podiam faltar, suas pequenas histórias sobre pessoas comuns nas faixas “Champagne from a straw”, “Stupidest girl in the world” e “Ideal world”. Destaque especial para a faixa oito “This is what it’s all about”, uma das músicas mais suaves e originais do álbum, em que a cantora se utiliza apenas da voz e do violão. A música tem uma forte influência da bossa nova e é perfeita para ouvir abraçado com o companheiro. “Take me I’m yours” é uma música de letra romântica, mas de ritmo dançante. Boa para dançar numa festa ou cantar em frente ao espelho quando ninguém estiver olhando.
A artista disse em entrevista que esse foi um álbum onde ela se divertiu e se aventurou. E que sua alegria está mais em ter conseguido fazer esse trabalho do que em saber os resultados. Mas, com um sorriso modesto, ela diz: “Mas naturalmente, eu espero que o álbum tenha sido bom. Eu acho que mereço”.
O segredo é não querer comparar o novo álbum da cantora com seus antigos trabalhos, nem esperar que o trabalho solo de Andrea preencha o vazio deixado pela banda. É apreciar esse trabalho bem produzido e diferente de tudo que a cantora já havia feito. É um álbum solo, e nele só se encontra a essência de uma Corr: a da caçula emancipada Andrea.

Ingrid Baquit

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Romântica assumida


Com novo pseudônimo, Meg Cabot desabrocha em maturidade.

As horas gastas na juventude lendo as obras de Jane Austen trouxeram grandes frutos para a nova safra de romances de Meggin Patricia Cabot. Conhecida como a autora da coleção “O diário da princesa”, Patricia Cabot mostra sua faceta mais madura em “A Rosa do Inverno” (Patricia Cabot, 414 páginas, Editora Essência, 2008, preço médio: 45 reais).
Cabot consegue utilizar o melhor dos dois tempos. A história se passa numa Inglaterra de 1860, onde a mulher continua sendo subordinada e um pouco submissa ao homem, principalmente às regras da sociedade inglesa daquela época. Nessa parte, Patrícia mostra a influência das obras de Jane Austen. Um livro que remete aos clássicos sem precisar ser de séculos passados. Mistura inocência com sensualidade, onde a forma mais forte e convincente de atração é a inteligência.
“A Rosa do Inverno” conta a história de Edward Rawlings, um homem da nobreza que não quer assumir o título de duque. Para não ter de cumprir as responsabilidades do cargo, Rawlings sai em busca do legítimo herdeiro do trono, o sobrinho Jeremy de 10 anos. Jeremy é órfão e mora com a tia Pegeen, uma moça um tanto liberal para a época. Ao se mudar para o Solar de Rawlings com o sobrinho, Pegeen sente que dessa vez o coração dela está tomando as rédeas. Ela pode resistir ao dinheiro e ao status, mas conseguirá resistir a Edward?
O livro é uma história cuja protagonista não é uma mocinha no sentido frágil da palavra, mas uma mulher que fica independente por motivos adversos. “Uma imagem inesperada e espontânea daquelas mãos no seu corpo fez com que o seu rosto ficasse bem vermelho. Santo Deus, o que ela tinha na cabeça? Tinha conhecido o homem havia pouco mais de uma hora e já estava tendo fantasias sobre...”
“A Rosa do Inverno” é um romance que exala sensualidade e romantismo. Fala sobre destino e escolha, especialmente dos dilemas femininos: desejos, temores, papel na sociedade. Patricia faz um relato interessante da mulher naquela época ao confrontar o instinto de se entregar a um homem e a decisão de manter a independência. “Não, Peggen MacDougal era perigosa porque beijava daquele jeito e não era a esposa ou amante de ninguém. O que significava que ela era livre demais e podia se apaixonar... Ou, o que era pior, ela era livre e ele podia se apaixonar.”
Um livro recomendado para as mulheres românticas que acreditam no amor suspirante e delicioso e para os homens que precisam aprender a conquistar as mulheres da forma mais interessante. Um livro para a gente ler com avidez, mas com suspiros vagarosos e profundos. “A Rosa do Inverno” é uma leitura que combina com a atmosfera primaveril.
Autora da coleção “O diário da princesa” e de livros de natureza infanto-juvenil, Cabot prova que amadureceu na escrita e a nova safra de romances consegue agradar também aos adultos. E às românticas assumidas mais exigentes.


Ingrid Baquit

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Confissões de uma mente sonhadora


Ter ou não um diário? Eis a questão! Algumas amigas dizem que é coisa de criança ou de mocinha. Para elas, já estou adulta o bastante para não utilizar mais esses aparatos infanto-juvenis. Será? Em um mundo efêmero, nada melhor que pegar as idéias da cabeça e guardar em um lugar em que poderei ver quando mais precisar.
Confesso que por ser uma pessoa inconstante que descobre coisas novas a cada minuto, a idéia de poder ver a evolução do pensamento e da vivência me parece muito interessante. Ainda se tem tanta coisa para aprender, para viver e experimentar. Espero ter maturidade para tirar todas as lições possíveis dessas situações, aprendendo com meus erros da melhor forma. E nessa hora eu penso: por que cometer as mesmas besteiras se existe tantos outras para cometer?

Aprendi com Getúlio Vargas que prefiro ser interpretado a me explicar. Sou um livro inacabado, com páginas em branco esperando ser preenchidas. De preferência com muitas cores, formas e amores. Classifico-me como um ser inconstante, como uma pessoa apaixonada que vai se descobrindo aos poucos e assim, construindo uma vida. Vou seguindo minha estrada sem pedir carona. Ás vezes conto com uma mãozinha dos meus amigos e da minha família. Até porque, não saberia viver sem as pessoas mais importantes da minha vida.

Acho que vou escrever um diário sim. Afinal, onde mais posso registrar minhas viagens ao redor do mundo? E quando eu quiser escrever minhas memórias? Meus diários me forneceriam uma ótima base. Vai que um dia eu vire famosa e jornalistas queiram escrever minha biografia. Melhor prevenir que remediar, já dizia minha avó.

Decidido! Vou escrever não só um, mas vários diários. Memórias de minhas viagens, de momentos que merecem ser lembrados e que podem ser passados para gerações posteriores. É até mais um motivo para juntar dinheiro a fim de conhecer o mundo. E quando eu for requerer um emprego como correspondente internacional, já vou ter uma bagagem cultural registrada no papel e na mente.

E assim vou vivendo, agindo, esperando, sonhando, amando, florescendo!
Dançando na corda bamba da vida de rosto colado, abraçando apertado. Sob a luz da lua, sigo dançando com a vida. Danço em todos os ritmos. Alguns mais devagar, outros mais rápidos, dependendo do meu humor. E como já dizia King Harvest, sigo os passos de Toploader: Eu estou apenas dançando sob o luar.



quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O meio ambiente agradece


Foi lançado em agosto o relatório “2009 State of Future”, em português “O Estado do Futuro 2009”. O relatório é realizado pelo Projeto Millenium em parceria com outros 32 grupos, entre eles organizações como a Unesco, o Banco Mundial, o Exército dos EUA e a Fundação Rockfeller. Feito por 2,7 mil especialistas, suas 6,7 mil páginas dizem que bilhões de pessoas serão condenadas à pobreza e metade da população mundial irá se envolver em convulsões sociais graças à crise ecológica global.
Especialistas apontam, também, a recessão global como o principal problema. Por causa dela, metade do mundo pode sofrer com a violência causada pelo aumento do desemprego e pela escassez de água, comida e energia e pelos efeitos acumulados do aquecimento global por volta do ano de 2025. Além da recessão, os especialistas também acreditam que a ganância e as decisões egoístas dos países transformaram o mundo em como ele está. A situação só faz mostrar que a economia mundial e a ética são interdependentes no mundo.

Acordos são fundamentais para manter a paz e conseguir a coerência global para trabalhar os problemas climáticos com maior ênfase, pois os países possuem interesses diversos e não estão muito preocupados com os demais. Os especialistas do relatório acreditam, porém, que os problemas de hoje podem trazer um futuro melhor. É que a crise econômica e a mudança no clima podem fazer a humanidade pensar numa vida globalmente responsável e deixar de pensar tanto só nos próprios interesses.

Acredita-se que a crise financeira abriu espaço para se pensar em medidas alternativas, como as tecnologias verdes. Hoje em dia, pensa-se mais na utilização de energias renováveis, materiais biodegradáveis, água salgada no lugar de água potável na agricultura. São atitudes que pensam no futuro e geram empregos. Dão mais opções para as pessoas e conscientizam os seres humanos de que tudo se acaba se não for conservado.

O homem sempre teve uma relação de dependência com o meio-ambiente. É dele que tiramos nossa alimentação, nosso vestuário, nossa moradia. Ter uma boa relação com o meio em que vivemos é fundamental para a nossa sobrevivência. O teólogo Leonardo Boff comentou sobre a importância de pensarmos nas futuras gerações. Muitas vezes, usufruímos das matérias-primas e não nos preocupamos em renová-las. Esquecemos de pensar no mundo melhor que queremos para os nossos descendentes. De que adianta gerar herdeiros se eles não tiverem como sobreviver ou não puderem utilizar os bens que um dia nós pudemos?

Devemos conservar o que é nosso. Bens que usamos desde sempre e ainda vamos usar por muito tempo. Por que só os que estão aqui têm o direito de ter esses bens? E as pessoas que ainda estão por vir? Devemos lembrar que até nós podemos sofrer conseqüências mais graves, pois já estamos sofrendo com temperaturas altíssimas, enchentes fora de época, incêndios em florestas por causa do calor, escassez de água potável.

Podemos modificar a situação e prevenir maiores complicações se cada um fizer sua parte. Basta que se usem menos sacolas plásticas, faça-se rodízio de carros, gaste-se menos água e faça-se uso de bicicletas. O meio-ambiente é nossa casa e nós precisamos mais dele do que ele precisa do ser humano. São pequenas atitudes que vão incentivando maiores. É um esforço que você faz que motiva outra pessoa a fazer também. Acredite, você vai se sentir melhor se fizer a sua parte para cuidar do mundo em que vivemos. O meio-ambiente agradece.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

“Quando a exclusão digital vai além da tela do computador”

O termo exclusão digital diz respeito às camadas da sociedade que ficaram a parte do fenômeno da sociedade da informação e do acesso às redes digitais. Como digital, entendemos não só a internet, mas qualquer ferramenta digital como computadores, DVD’s, vídeo digital, som digital e telefonia móvel.
A questão da exclusão digital é um grande desafio no século XXI, pois as desigualdades existentes entre pobres e ricos tendem a aumentar com essa era digital e a expansão das novas tecnologias. Essa exclusão digital sai do tecnológico e passa a ter efeitos em vários aspectos sociais, culturais, econômicos, etc. Um exemplo claro são os estados brasileiros. Os cinco estados com maior nível de inclusão digital são os mais ricos e com o maior nível de escolaridade (São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Distrito Federal). Mas nem só o acesso às mídias e tecnologias de informação é o bastante para uma participação cidadã. Além de que, a falta de acesso só faz agravar a desigualdade social. A política de inclusão digital é feita por governos, organizações multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo terceiro setor com comunidades mais abastadas. Essa política procura dar às pessoas mais humildes um acesso a internet, uma maior capacitação das ferramentas digitais.
Para o filósofo francês, Pierre Lévy, “toda nova tecnologia cria seus excluídos”, pois todos estão em igualdade quando não têm acesso a uma tecnologia. Por exemplo, não existiam analfabetos antes da escrita.
A redução da exclusão digital é um termo utilizado para se tratar do contraste entre o mundo industrializado e as regiões que não têm acesso às novas tecnologias. O termo “digital” é muito ligado à internet, ao fato de que podemos nos incluir digitalmente por meio dos computadores, mas devemos pensar na possibilidade da utilização de outros meios para uma inclusão. Manuel Castells estima que “haja atualmente mais de um bilhão de usuários de internet e cerca de dois bilhões de linhas de telefone celular. Dois terços da população do planeta podem se comunicar graças aos telefones celulares, inclusive em lugares onde não há energia elétrica nem linhas de telefone fixo”. A telefonia sem fio tem grandes vantagens, como uma grande velocidade de implementação e o baixo custo quando comparada à telefonia fixa. Pesquisas mostram que um crescimento na penetração de telefonia móvel em um país aumenta o seu PIB.
Uma saída para a exclusão digital foi o crescimento econômico através de negócios sustentáveis locais para trabalhar na redução da pobreza. Economia sustentável permite a participação de diversas pessoas na sociedade global de informações.
Como uma organização multilateral, a ONU está liderando iniciativas que possam combater a pobreza nas regiões subdesenvolvidas do mundo. É através das “Metas de Desenvolvimento do Milênio” (Millennium Development Goals - MDG) e da cooperação com o setor privado que a ONU prometeu reduzir a pobreza extrema à metade até 2015, além de fomentar uma parceria global para o desenvolvimento. Através do setor privado, principalmente da ICT (Information and Communication Technology), a ONU pretende se beneficiar das novas tecnologias. Se não houver uma participação mais ativa do privado, o programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) acredita que as metas não serão alcançadas em muitos países africanos até o ano 2147 se mantidos os modelos de negócios atuais.
O uso das tecnologias de informação e comunicação é de extrema importância, muda o cotidiano das pessoas e a dinâmica do relacionamento existente entre elas. Só é preciso ter cuidado com os países com grandes desigualdades, como o Brasil, onde essa apropriação das novas tecnologias pode aumentar ainda mais a exclusão digital se não for feita democraticamente.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Democratização da comunicação: É possível?

O questionamento central é se existe uma participação real da sociedade civil nesse processo de democratização da comunicação. E como podemos fazer para que se crie um modelo de comunicação em que os interesses públicos se sobreponham aos interesses mercadológicos e privados desse atual modelo em que uma pequena quantidade de grandes empresas concentra quase todos os meios de comunicação.
Essa concentração (monopolização) do setor de comunicação nas mãos de poucas famílias traz conseqüências em relação à programação e ao conteúdo. Há uma menor variedade de programas e, muitas vezes, os programas exibidos são de interesse dos proprietários, e não dos cidadãos e telespectadores. A publicidade passa a ter um peso maior e existe uma manipulação de acordo com os interesses mercadológicos e políticos dos donos dos meios. Por exemplo, um jornal com uma linha política igual à do governo vigente, vai dar ênfase às notícias que interessam ao governo, que falam bem do governante. Provavelmente, vai falar menos da oposição, ou até falar mais coisas ruins do que coisas boas. Segundo o pesquisador Mc Chesney, o mercado global de mídia é controlado por cerca de 10 grandes conglomerados e outras 40 empresas, que, por coincidência ou não, são ligadas a esses 10 conglomerados. Uma explicação utilizada para explicar essa oligopolização é o processo biológico de sinergia: a fusão de diferentes políticas públicas numa só política de comunicações e a presença de conglomerados empresariais (os global players) e organismos internacionais como a OMC como poderosos atores na formulação dessa política de comunicações. (LIMA, 2004)
De acordo com Carlos Gilberto Roldão, devemos levar em consideração que estamos inseridos em um Estado liberal desde o século XX, e que é necessário entender seu funcionamento para podermos pensar em saídas viáveis. Também é preciso entender sua função e utilização em todo o processo histórico, além de estudar o processo histórico da sociedade civil nele inserida. Nesse Estado liberal, os interesses dos proprietários dos meios de comunicação normalmente prevalecem, pois os valores dominantes de uma sociedade também são liberais. Isso acontece porque o liberalismo diz que o intervencionismo estatal dificulta o desenvolvimento econômico. O Brasil começa a contar com várias novas regras na área da comunicação a partir de 1995. Essas regras em vigor tornam possível a desregulamentação e a privatização das comunicações, além de permitir uma participação direta do capital estrangeiro. No mesmo ano (1995), Nuzzi indica por uma pesquisa que 90% da mídia brasileira é controlada por 13 grupos familiares. Só a família Marinho (da rede Globo) tem participação societária em 32 emissoras de televisão, sendo 10 só dela. Há também um levantamento indicando que 31,12% das emissoras de TV e rádio eram controladas por políticos. (LIMA, 2004)
Por ser um Estado neoliberal, existe no Brasil uma tendência de se colocar ao lado dos concessionários da mídia. O Estado se aproveita dessa união para garantir sua hegemonia, seus interesses e seu lucro. Um bom exemplo foi a do acordo feito entre os governantes militares e a Rede Globo na época da ditadura militar. O Jornal Nacional (JN) da rede Globo passa a ser o primeiro jornal em rede nacional graças à estrutura de satélite financiada pelos militares. Em troca, o JN passa a noticiar matérias de interesse dos militares, e procura dar uma visão de bom governo para esse período tão controverso.
Existe, na sociedade civil, um processo em que uma classe dominante exerce uma influência em uma classe dominada. A classe dominante procura usar sua liderança política, intelectual e moral para impor seus interesses e suas vontades.
Roldão (2008) também nos convida a entender como os valores culturais são reproduzidos pelo capitalismo. O receptor, nos dias de hoje, possui uma grande variedade de meios de comunicação (televisão, rádio, meios impressos, internet, etc) e uma maior facilidade para acessá-los. Mas essa maior facilidade não quer dizer que o receptor se utiliza melhor desses meios. Muitas vezes, há um turbilhão de informações, e nem sempre o indivíduo tem um senso crítico ou uma bagagem cultural para discernir o que é verdade, o que é mentira, o que é manipulado, o que é construtivo, o que é para diversão e entretenimento, etc.
A democratização da comunicação é de vital importância, pois é através dela que poderemos exercer nosso direito à comunicação. A comunicação é um direito humano que deve ser tratado do mesmo nível e grau de importância que os demais direitos humanos. Esse direito integra a liberdade de expressão, o direito à informação, ao acesso pleno e às condições de sua produção. Procura compreender a garantia de diversidade e pluralidade de meios e conteúdos, a garantia de acesso equitativo às tecnologias da informação e da comunicação, a socialização do conhecimento, a participação efetiva da sociedade na construção de políticas públicas. A liberdade de expressão é um direito humano fundamental do indivíduo e passa a fazer parte da reivindicação do direito coletivo de acesso à informação e aos canais de expressão, como forma de conquista de cidadania pelos movimentos sociais. Está ligado à construção de identidades e subjetividades.
Para que haja uma democratização da comunicação, não basta que se promova uma maior inclusão e uma maior acessibilidade dos cidadãos. Essa democratização da comunicação é essencial para a construção da cidadania. São fundamentais ações que procurem criar e fortalecer os movimentos de democratização dessa comunicação no Brasil. É preciso que esses movimentos se articulem para defender seus interesses e usar essa força e essa união para conseguir que o Estado atenda às necessidades da população. Mas mais importante que uma sociedade com acesso a uma comunicação mais democrática, é a necessidade de que se tenha uma leitura crítica da mídia, uma distinção do que é real ou ficção. Precisamos de movimentos que busquem promover uma visão crítica sobre as muitas informações que recebemos, novos conteúdos com qualidade que construam uma nova consciência para fortalecer a democracia. Pois ao entendermos o que está errado e ao procurarmos melhorar, podemos criar um modelo de comunicação em que as pessoas possam participar e tirar lições úteis e aplicáveis para seu dia a dia.

Artigo produzido para a cadeira de ética