quinta-feira, 25 de março de 2010

Folhas que os ventos depositam...

As folhas depositaram sete sementes no Brasil. A primeira foi Alberto, em 1924. Os seguintes se alternavam em homem e mulher com intervalos de dois anos entre cada um: Albertina em 1926, Adalberto (que morreu com 11 anos) em 1928, Maria em 1930, José em 1932, Giselda em 1934 e Aziz em 1936.
Por mais receptivos que os árabes sejam, Albertina lembra que não tinham muito contato com os conterrâneos em Quixadá, “não havia entrosamento entre eles”, lembra a filha mais velha, segunda na ordem. “Com o tempo, muitos foram embora, morrendo, e acabamos tendo contato mesmo com os da geração seguinte”, diz. A falta de aproximação com as demais famílias árabes fortaleceram o entrosamento familiar tão valorizado pelo pai, seu Abraão. Ele comentava uma grande diferença da sua terra natal com sua terra atual. Na Síria, ele tinha mais liberdade. Não era como a relação entre patrão e empregado. Era uma relação familiar de apoio, que ele sempre procurou ter com sua mulher e seus filhos no Brasil.

Em Quixadá, abriram uma loja de tecido, onde também vendia sapatos, óculos. “Naquela época, vendia de tudo nas lojas no interior”, lembra José. Abraão, como todo árabe, era um comerciante nato. Mas era Rosa que dava o diferencial na loja. A filha Giselda diz que a mãe tinha muita sensibilidade, um toque para moda. “Ela não comprava muito tecido de uma mesma estampa, comprava só um corte para não ter mais de uma pessoa com o vestido igual na cidade”, lembra. Muito comunicativa, Rosa também era muito franca. “Dizia as coisas, mas sem querer magoar”, lembra a filha ao falar sobre quando foi pedida em casamento. Mamãe disse logo para o meu noivo: “É uma menina muito boa, mas não sabe fazer nada”, ri.
Com seis filhos, a família morava numa casa comum, mas bem confortável, com fundo correspondente. A loja de tecidos, que durou até 1947, localizava-se ao lado. Rosa e Abraão falavam em árabe quando o assunto era particular. Falavam com os filhos em português. Giselda e Albertina disseram que era porque nenhum filho teve muito interesse em aprender. “só o Aziz que fala mais ou menos”, lembra Giselda. Os filhos aprenderam algumas expressões em árabe, mas se sentiam mais à vontade falando o português.

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